Pinote suspirava pelos 4 cantos da sala. Distraído, deixou escapar a última gota de ar. Tentou colher o oxigênio de volta, levando a mão à boca, querendo encher seu vazio. Mas era tarde. O ar já havia ido embora, buscar outras atmosferas mais festivas. Morreu com o corpo murcho no chão frio de um dia nublado.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
domingo, 24 de abril de 2011
Páscoa: poder, ovos e trapaças
Juntar ovos de Páscoa e pacotinhos de São Cosme e Damião é o mais perto de acumulação de capital que uma criança pode chegar. Eu mesmo, na época das estantes de proporções everestiana e das calças ocasionalmente molhadas de xixi, me interessava mais em guardar doces do que comê-los. Na barriga, não podiam causar inveja nos primos e amigos. Era necessário ostentá-los em suas embalagens coloridas e chamativas, enfileiradas na porta da geladeira.
Inocente cobiça capaz de se tornar selvageria nas condições de pressão e temperatura apropriadas. Basta os adultos esconderem ovos pela casa numa inocente brincadeira de caça ao tesouro; distração para os pequenos enquanto as cervejas são esvaziadas. Em sua ingenuidade, mal percebem a insensatez da estratégia: incitar a ambição de crianças ligeiramente alteradas por altas taxas de açúcar no sangue. É só a tia dizer - podem procurar - e todo mundo desaparece, deixando para trás apenas nuvenzinhas de poeira.
Pessoas são empurradas, vasos são quebrados, a gaveta das lingeries sexys da titia quarentona é violada. Tudo vale para ser o novo Barão do Cacau. Morder, bater, roubar, chorar, espionar. Sim, espionar. Pois há sempre os olhinhos que ficaram seguindo as pernas dos adultos na hora de esconder os doces. São as crianças que andam calmamente em meio à gritaria dantesca, se abaixando perto do ralo do banheiro e dizendo “Olha só, encontrei mais outro.” Os pais, claro, sempre se arrependem tarde demais: antes de estarem bêbados o bastante para ignorar os choros e brigas dos filhotes.
Ovos encontrados, acabada a festa, danos contabilizados. Hora do grande vencedor, senhor de bilhões de calorias achocolatadas, finalmente descansar alegre em cima de seu sucesso adocicado. Flawless victory. Tudo terminado... certo?
Pois apenas começou. Com a cabecinha no travesseiro, você se lembra de todas aquelas carinhas contorcidas pela inveja e pelo começo da abstinência de açúcar. Vai pensar em como é fácil alguém ir, na ponta dos pés, abrir a geladeira; em como as embalagens podem ser desveladas por qualquer um capaz de dizer –Gugudada. Impossível dormir. Cada minuto será dedicado a conferir seu estoque; a pesar cada ovo a procura de 1 grama, 1 centigrama, 1 miligrama que seja, perdido. Sua riqueza tornada maldição. Irá jurar doar suas reservas aos seus colegas para logo em seguida abandonar essa ideia e comprar cadeados, só por precaução.
Então, um belo dia, você vai à escola. Antes, claro, deixa uma série de ordens com papai e mamãe e dá uma última olhada maternal ao seu tesouro em seu banco gelado. Com certa relutância - deve-se dizer - você fecha, lacra e finalmente parte apenas para retornar, horas depois, a uma geladeira vazia. Vazia não, pois ainda estarão lá as verduras; sempre há verduras. Danem-se as verduras! No chão, embalagens de bombons te guiam até a sala, onde vê dois pés enfiados em chinelas de borracha, que dão para duas pernas, que vão levar a sua mãe sentada no sofá, sorrindo para você com uma mancha brilhante marrom-bombom no canto da boca.
-Oi, filho, como foi a aula?
Atrás, o barulhinho de plástico sendo desembrulhado denuncia o seu papai que estende a mão para lhe oferecer metade do seu próprio ovo da Páscoa, conquistado a duras explorações das áreas mais sinistras da casa. Duro capitalismo selvagem, há sempre alguém acima de você.
Lição: acumule dinheiro, depois roube o chocolate do seu filho. Ou: Marx não gostava de chocolate.
Inocente cobiça capaz de se tornar selvageria nas condições de pressão e temperatura apropriadas. Basta os adultos esconderem ovos pela casa numa inocente brincadeira de caça ao tesouro; distração para os pequenos enquanto as cervejas são esvaziadas. Em sua ingenuidade, mal percebem a insensatez da estratégia: incitar a ambição de crianças ligeiramente alteradas por altas taxas de açúcar no sangue. É só a tia dizer - podem procurar - e todo mundo desaparece, deixando para trás apenas nuvenzinhas de poeira.
Pessoas são empurradas, vasos são quebrados, a gaveta das lingeries sexys da titia quarentona é violada. Tudo vale para ser o novo Barão do Cacau. Morder, bater, roubar, chorar, espionar. Sim, espionar. Pois há sempre os olhinhos que ficaram seguindo as pernas dos adultos na hora de esconder os doces. São as crianças que andam calmamente em meio à gritaria dantesca, se abaixando perto do ralo do banheiro e dizendo “Olha só, encontrei mais outro.” Os pais, claro, sempre se arrependem tarde demais: antes de estarem bêbados o bastante para ignorar os choros e brigas dos filhotes.
Ovos encontrados, acabada a festa, danos contabilizados. Hora do grande vencedor, senhor de bilhões de calorias achocolatadas, finalmente descansar alegre em cima de seu sucesso adocicado. Flawless victory. Tudo terminado... certo?
Pois apenas começou. Com a cabecinha no travesseiro, você se lembra de todas aquelas carinhas contorcidas pela inveja e pelo começo da abstinência de açúcar. Vai pensar em como é fácil alguém ir, na ponta dos pés, abrir a geladeira; em como as embalagens podem ser desveladas por qualquer um capaz de dizer –Gugudada. Impossível dormir. Cada minuto será dedicado a conferir seu estoque; a pesar cada ovo a procura de 1 grama, 1 centigrama, 1 miligrama que seja, perdido. Sua riqueza tornada maldição. Irá jurar doar suas reservas aos seus colegas para logo em seguida abandonar essa ideia e comprar cadeados, só por precaução.
Então, um belo dia, você vai à escola. Antes, claro, deixa uma série de ordens com papai e mamãe e dá uma última olhada maternal ao seu tesouro em seu banco gelado. Com certa relutância - deve-se dizer - você fecha, lacra e finalmente parte apenas para retornar, horas depois, a uma geladeira vazia. Vazia não, pois ainda estarão lá as verduras; sempre há verduras. Danem-se as verduras! No chão, embalagens de bombons te guiam até a sala, onde vê dois pés enfiados em chinelas de borracha, que dão para duas pernas, que vão levar a sua mãe sentada no sofá, sorrindo para você com uma mancha brilhante marrom-bombom no canto da boca.
-Oi, filho, como foi a aula?
Atrás, o barulhinho de plástico sendo desembrulhado denuncia o seu papai que estende a mão para lhe oferecer metade do seu próprio ovo da Páscoa, conquistado a duras explorações das áreas mais sinistras da casa. Duro capitalismo selvagem, há sempre alguém acima de você.
Lição: acumule dinheiro, depois roube o chocolate do seu filho. Ou: Marx não gostava de chocolate.
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Tecnologias do futuro 2
Aquela barriguinha não te deixa mais ir à praia? Você tem preguiça de levantar a sua bunda gorda para fazer ginástica? E além de tudo não consegue parar de comer? Você está precisando do Diet-Hole, a última palavra em estética corporal. O Diet-Hole é o único modo de emagrecer sem trabalho, enquanto devora alguns kilos de hamburgueres gordurosos e suculentos.
O seu método é simples: nanomáquinas ingeridas num gole d'água criam uma dobra hiperespacial dentro do seu estômago, conectando seu sistema digestivo ao buraco negro mais próximo de sua galáxia. É isso mesmo que você ouviu! Você come e a comida desaparece na gravidade exorbitante do buraco negro, indo parar em algum lugar do universo, noutra dimensão ou até, devido a raros acidentes temporais, na barriga de um camponês faminto do século XIV
A expressão parece que tenho um buraco negro no estômago nunca foi tão verdadeira!
Não perca mais tempo! Ganhe aquele corpinho de supermodelo que sempre quis ter. Veja o depoimento de alguns consumidores do Diet-Hole!
Jenoveva , 35 anos:
Nossa, eu pesava 120 quilos, meu marido havia me abandonado, perdi o emprego, minha vida estava por um fio. Até que alguém me disse, por que você não usa o Diet-Hole? Eu ri, não sabia porquê. Me explicaram sobre física quântica, teoria M e essas coisas. Não resisti e comprei. Os resultados foram na hora. Um verdadeiro big bang ao contrário dentro da barriga. Você realmente sente aquela dor das gorduras sendo sugadas; não é que nem esses outras bobagens de nutricionistas, que você não vê nenhum efeito. Funciona mesmo! Em um dia, já pesava 10 kilos e era carregada num barbante, igual a um balão, por um novo marido. A melhor parte: eu como mais do que antes.
Afrânio Parafina, 26 anos
Antes de usar Diet-Hole, eu era alvo de zoações constantes por causa do meu peso. Meus amigos diziam: você nunca vai atrevessar a velocidade da luz com essa massa, Afrânio. É até provável que nem consiga ultrapassar a velocidade de uma lesma, adicionavam às gargalhadas. Aí tomei Diet-Hole e em 1 dia podia quebrar a barreira do som. Hoje viajo na velocidade da luz e sou capa da reviste "Grande Homens e Alienígenas" e sou melhor do que todos eles. Agora, com licença, preciso terminar o meu cooper em torno da galáxia.
O que está esperando?!! Compre Diet-Hole e mude você também a sua vida!!!
O seu método é simples: nanomáquinas ingeridas num gole d'água criam uma dobra hiperespacial dentro do seu estômago, conectando seu sistema digestivo ao buraco negro mais próximo de sua galáxia. É isso mesmo que você ouviu! Você come e a comida desaparece na gravidade exorbitante do buraco negro, indo parar em algum lugar do universo, noutra dimensão ou até, devido a raros acidentes temporais, na barriga de um camponês faminto do século XIV
A expressão parece que tenho um buraco negro no estômago nunca foi tão verdadeira!
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Jenoveva , 35 anos:
Nossa, eu pesava 120 quilos, meu marido havia me abandonado, perdi o emprego, minha vida estava por um fio. Até que alguém me disse, por que você não usa o Diet-Hole? Eu ri, não sabia porquê. Me explicaram sobre física quântica, teoria M e essas coisas. Não resisti e comprei. Os resultados foram na hora. Um verdadeiro big bang ao contrário dentro da barriga. Você realmente sente aquela dor das gorduras sendo sugadas; não é que nem esses outras bobagens de nutricionistas, que você não vê nenhum efeito. Funciona mesmo! Em um dia, já pesava 10 kilos e era carregada num barbante, igual a um balão, por um novo marido. A melhor parte: eu como mais do que antes.
Afrânio Parafina, 26 anos
Antes de usar Diet-Hole, eu era alvo de zoações constantes por causa do meu peso. Meus amigos diziam: você nunca vai atrevessar a velocidade da luz com essa massa, Afrânio. É até provável que nem consiga ultrapassar a velocidade de uma lesma, adicionavam às gargalhadas. Aí tomei Diet-Hole e em 1 dia podia quebrar a barreira do som. Hoje viajo na velocidade da luz e sou capa da reviste "Grande Homens e Alienígenas" e sou melhor do que todos eles. Agora, com licença, preciso terminar o meu cooper em torno da galáxia.
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segunda-feira, 18 de abril de 2011
Teconlogias do futuro 1
Cansado daquela coisa incômoda chamada realidade, que sempre está presente para atrapalhar o som do seu mp3? Com o MP-BARRIER você finalmente estará isolado do mundo através de um campo de força positrônico, capaz de eletrocutar qualquer interlocutor itinerante e de bloquear qualquer som externo, do trânsito caótico ao cantar dos pássaros. É a tecnologia das guerras atômicas ao seu dispor!
Compre o seu MP-BARRIER agora e se tranque ao som da sua banda favorita.
Por mais 20 reais, você leva Fones Sensormáticos Prostráticos. Enfiados nos ouvidos, no ânus e na boca; os Fones Sensormáticos Prostráticos emitem uma descargar de partículas de emoção capaz de recriar as sensações do eu-lírico da música em tempo real. Sinta de verdade aquela dor de cotovelo sincopada!
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domingo, 17 de abril de 2011
Pirulitando.
Eu e o meu pênis certamente não nos damos bem juntos. Devíamos pedir divórcio. Sinto pena dele nas raras vezes em que o vejo livre nos seus passeios pelo banheiro, sempre pra baixo.
As minhas calças são um monastério.
Pobre condenado...
Um dia simplesmente acordou junto comigo, dentro da barriga de alguém.
Como foi parar lá?
Já pensou em fugir. Muita vezes aponta pro céu, firme, usando toda sua força a procura de furar sua prisão de roupas íntimas, inutilmente. A verdade, a ironia, é que eu posso viver sem ele, mas ele não pode viver sem mim.
As minhas calças são um monastério.
Pobre condenado...
Um dia simplesmente acordou junto comigo, dentro da barriga de alguém.
Como foi parar lá?
Já pensou em fugir. Muita vezes aponta pro céu, firme, usando toda sua força a procura de furar sua prisão de roupas íntimas, inutilmente. A verdade, a ironia, é que eu posso viver sem ele, mas ele não pode viver sem mim.
Domingo de Sol
Quente quente quente. Difícil ser criativo num calor assim. O ponto de ebulição das idéias é baixo, logo evaporam. Nunca ouvi falar de livro sendo escrito em prisão do Rio de Janeiro, já em prisão da Sibéria é outra história. Ah! queria ter um czar pra dar um tapa na cara dele, pedir pra que me chamasse de revolucionário sujo e me exilasse. Vai, me coloca na Sibéria, vai! Por favor! É a minha fantasia erótica do dia.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
12
12 crianças morreram e ainda vai rolar bate-boca no trânsito congestionado; brigas vão acontecer porque alguém olhou para outro com uma cara estranha; conflitos serão travados por causa de limites de propriedade; novas e elaboradas maneiras de ferrar com os outros serão criadas por equipes de marketing. E, principalmente, existirão armas de fogo.
domingo, 3 de abril de 2011
Onde está o código de barras do seu bebê?
Enquanto eu passava pelos corredores do supermercado um dia desses, era difícil não reparar no número de crianças indo de um lado para o outro, no colo dos pais e, principalmente, dentro dos carrinhos de compra. Comecei a cogitar que deveria haver alguma prateleira cheia de crianças em promoção, estocadas por sexo, cor e forma. Mas depois repensei: criança não é o tipo de coisa que se compra, por não ter garantia. Se estiver quebrada, além de não poder devolver, você terá de arcar com o conserto. Sem falar que vender 5 crianças por 1 real perde seus atrativos quando se gasta muito mais em operações cirúrgicas para exatamente não ter 5 filhos.
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