domingo, 3 de abril de 2011

Onde está o código de barras do seu bebê?

Enquanto eu passava pelos corredores do supermercado um dia desses, era difícil não reparar no número de crianças indo de um lado para o outro, no colo dos pais e, principalmente, dentro dos carrinhos de compra. Comecei a cogitar que deveria haver alguma prateleira cheia de crianças em promoção, estocadas por sexo, cor e forma. Mas depois repensei: criança não é o tipo de coisa que se compra, por não ter garantia. Se estiver quebrada, além de não poder devolver, você terá de arcar com o conserto. Sem falar que vender 5 crianças por 1 real perde seus atrativos quando se gasta muito mais em operações cirúrgicas para exatamente não ter 5 filhos.

A explicação mais racional talvez fosse o horário e o fato de já ter começado os preparativos da Páscoa, com aqueles passagens cobertas por ovos de páscoa, como um túnel direto para a maravilhosa terra da diabetes. Independente das razões, aquilo me fez ver a mim mesmo sentado dentro de um carrinho de compras, como o capitão de um navio, ordenando a minha mãe:

-Biscoitos a Estibordo! A toda velocidade!

Mas raramente era obedecido.

-Não! Não o corredor dos detergentes de novo!

Aos poucos o barco começava a encher de produtos e o espaço a ficar apertado, o que fazia me perguntar se iria acabar soterrado e esquecido de baixo de comida congelada. Antes de me afogar em consumo, era sempre retirado do carrinho vivo, porém um tanto decepcionado. Em geral, ir ao supermercado sempre foi uma experiência interessante. Você vê pessoas de todo tipo dividindo o mesmo espaço. As senhoras gordas, os adolescentes procurando por bebida alcoólica, o tio de cabelos grisalhos ao lado dos adolescentes checando uma marca de vinho que lhe faça parecer sofisticado sem ser muito cara; e até homens sem camisa, que devem passar no supermercado na pausa do churrasco ou do futebol.
A única coisa da qual nunca gostei é a parte de pagar. Como gastar dinheiro já não fosse ruim o suficiente, ainda tem que ficar ali, de pé numa fila, que às vezes nem é lá grande, somente para ouvir que o caixa não tem troco. E o sofrimento continua após o pagamento.

Por quê? Porque antes de carregar suas compras todo feliz para a casa, é necessário ensacá-las e aprontá-las para o transporte. A minha estratégia sempre foi sair tacando uma coisa em cima da outra de qualquer forma, o mais rápido possível. O problema é que isso é considerado uma ofensa, e em certos casos uma declaração de guerra, a qualquer mãe desse mundo, do ocidente ao oriente. Você não pode de jeito nenhum misturar frios e quentes. Você não pode colocar tomate debaixo da garrafa de 2 litros de refrigerante. E, acima de tudo, pelo mais sagrado, mantenha o material de limpeza separado. Afinal, você é maluco? Está drogado? Vamos, mostre as drogas! Mostre! Não, mamãe eu juro que parei!

Ou seja, é uma tarefa excruciante e estressante. Tão pior quanto mais você demorar, pois terá de desviar dos olhares dos que estão a espera de você liberar o caixa. Diga-se de passagem, frutas mais delicadas já viajaram no banco da frente do carro, comigo tendo de dividir o porta-malas com outras compras. Nessa parte eu me sentia mais como escravo do que capitão do navio.

Aliás, tenho quase certeza: o Tetris foi inventado numa ida ao supermercado.

2 comentários:

Cinthia Belonia disse...

Texto gostoso de se ler, num mau humor bem divertido.

Cinthia Belonia disse...

Agradeço a visita tbm. E concordo com vc quanto a transar no primeiro encontro. Não que eu não faça isso, mas é mesmo que já estar namorando no segundo encontro.

beijos