quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Da ausência

Presépio não era o tipo de cara pelo qual você toma nota, ele simplesmente aparecia e desaparecia sem se você se importar muito; igual a uma caneta bic. Ele já foi demitido do seu trabalho como contador numa empresa de imóveis e continuou trabalhando lá por uns 3 meses. Nunca trabalhara tanto, aliás. As pessoas simplesmente deixavam os papéis em cima da mesa e achavam q eles desapareciam por mágica. No colégio, o inspetor do andar o trancou no banheiro, pois não reparara que havia alguém numa das cabines, mesmo que este alguém estivesse gemendo por causa de uma baita diarréia. A verdade era que, se alguém chegasse para Presépio e dissesse “Meu rapaz, lamento dizer mas você é um fantasma”, ele provavelmente daria de ombros e responderia algo do tipo “Isso explica muita coisa”.

Ele não se importava ou pelo menos já havia aceitado esse aspecto da sua vida. Não era um homem que esperava muito de si mesmo. Agora mesmo ele está num restaurante, esperando a meia hora que algum garçom percebesse os movimentos frenéticos que fazia com as mãos – igual ao das senhoras ao gritarem bingo - sem muito sucesso. Suspirou e decidiu descansar um pouco. No máximo, sairia do restaurante sem pagar a conta.

Voltou, então, sua atenção para uma mulher sentada numa mesa no fundo, além dos banheiros e ao lado de uma pilastra, isolada do resto do restaurante. Ela era gordinha, não muito, apenas o bastante para ter aquelas dobras na barriga, tinha um rosto redondo, olhos grandes que lhe davam uma aparência alegre e cabelos curtos na altura dos ombros. Presépio a achou bonita o bastante para que não tivesse coragem de chegar a dois metros de distância. É claro, pensou, não que fizesse diferença, poderia se vestir de Carmem Miranda e dançar de baixo do nariz dela que a moça nem repararia. Engraçado... Ele sempre gostou de Carmem Miranda; é contagiante. Todas aquelas frutas... Todavia, não era hora para devaneios, a mulher do fundo fazia uma careta estranha. Seus olhos estavam esbugalhados, suas mãos seguravam a mesa com força e ela parecia tentar tossir sem êxito.

Presépio, embora não fosse médico, sabia o que era um legítimo caso de “engasguidão” repentina. Assistira a isso no E.R.. Imaginou-se salvando a mulher e sendo aplaudido pelos clientes. Contudo, logo sua imaginação se transformou num episódio onde matava a coitada e era esquecido para sempre dentro de alguma prisão. O mais correto a fazer, concluiu, era olhar para uma parede e contar até 3. Tudo se resolveria. 1... 2... 3... Ok. Vamos olhar. É, agora ela está com as mãos segurando a garganta em desespero. Ótimo. Ele fez sinal para o garçom. Não adiantou. Deu um puxão nele. Ele o olhou com um sorriso, enquanto processava no cérebro da onde havia saído aquela criatura.

-Em que posso servi-lo, senhor?

-Tem uma mulher sufocando ali atrás.

-Uhum.- anotou o garçom em seu caderninho. Sorriu novamente- Já traremos o seu pedido.

Ele deu a volta na mesa de Presépio, foi até o balcão, deixou o seu bloco em um lugar qualquer e começou a rir quando viu a pegadinha na televisão. Presépio se esforçou para parecer incrédulo. Aquilo necessitava de uma atitude extrema. Tirou o pigarro da garganta e disse tímido, numa voz que variava de tom:

-Tem algum médico aqui?

Nenhuma resposta. Ele tentou.

Pegou o celular e discou emergência.

-Alô, tem uma mulher engasgan.

-Sua ligação logo será atendida. Por favor, aguarde alguns instantes.

Uma música monofônica começou a tocar. Era uma música de natal.

Ficou irritado. A sua habilidade de ser ignorado geralmente só o afetava, mas agora uma outra pessoa corria risco. E não era só uma pessoa, era uma mulher bonita pelo qual estava interessado. Não podia deixar de ligar para isso. Era um daqueles momentos da nossa vida que nos dão a oportunidade de mudar, de reescrever a nossa história. E Presépio sentiu que podia. Levantou-se da cadeira, empurrando o garçom que passava logo atrás e seguiu a passos firmes até a mesa da mulher; o rosto vermelho de vergonha. Algumas pessoas passaram a olhar para todos os lados, tentando entender o que estava acontecendo. Algumas começaram a pensar que seriam muito melhor tratadas em outros restaurantes onde provavelmente não teriam garçons bêbados caindo por aí. Nenhum deles é claro, não reparou no pequeno herói que passava por eles.

Presépio colocou os seus braços em volta do tórax da mulher, cuidando para não encostar nos seios. Concluiu, irônico, que iria demorar muito para ficar tão próximo de uma mulher novamente. Pessoas sempre dizem que o máximo que pode acontecer quando se flerta numa mulher é receber um não. Pois bem, nessa ocasião, alguém poderia morrer. E isso seria um fora um tanto traumatizante. Presépio soltou um suspiro, contou até três e fez pressão com as mãos sobre o abdome. A moça cuspiu um pedaço de algo que Presépio não definiu muito bem, talvez um osso de galinha, e respirou fundo.

-Essa foi por pouco dona. – disse ele, limpando o suor na testa. Havia conseguido! Salvara alguém! Seria notado por toda a história! Ou pelo menos teria uma placa com seu nome no restaurante... quem sabe um sanduíche feito com panetone chamado Presépio... – Sabe, não precisa agradecer. É meu dever civil salvar mulheres tão bonitas como a senhorita. E.

-Ufa, a sorte q eu consegui tossir a tempo. – interrompeu ela, sem dar muita bola.- Um milagre de Deus!

-Deus não! Eu! Euu! Deus tá muito ocupado rolando no seu sofá cósmico.

Presépio tentou dar chilique, sacudir a dona, mas essa não se contentava em parar de comer. Decidiu entregar os pontos. Talvez ele devesse ficar alegre por notar a própria capacidade ao salvar a mulher, ou talvez essa moral seja uma simples baboseira. O fato é que ninguém o viu quando pegou a garrafa de vinho tinto de uma mesa e nem quando saiu para a noite na rua, sem prestar as contas com o restaurante. E aquilo o deixou satisfeito.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Um pouco Douglas Adams

A ventania anormal, numa dança com a areia da praia, acertava os dois amantes como um chicote, mas eles não se importavam. Não enquanto as suas mãos estivessem entrelaçadas sob aquele suave Sol da manhã, não enquanto o aroma do mar entrasse em seus pulmões e convergissem como ondas nos beijos apaixonados.
-Mesmo que minha família me deserte, continuarei ao seu lado.- diz o rapaz.
-Mas por quê? –pergunta a moça.
-É porque eu te amo muito, meu bem.
-Eu também te amo, meu bem.
Os dois se abraçaram e em câmera lenta eles aproximaram os lábios. Mas, ao invés do romântico som de um estalo, ouviu-se um silvo agudo e um baque; de repente a areia cobriu tudo. A nave espacial, responsável pela anomalia atmosférica acabara de pousar na praia.
Era esférica, platinada, em resumo, um perfeito clichê. Abriu-se uma cabine no centro da nave e dela, saiu uma alienígena do tipo tradicional que não confia em naves arrojadas, longas, cheias de motores de prótons que exigem rios de dinheiro em efeitos especiais. Ela parecia dar uma nova interpretação à palavra turista, pois apesar de usar aparatos comuns, incluindo aí camisas havaianas, maquinas fotográficas etc., todos eles tinham um ar de que possuíam utilidades muito mais do que as padrões e não duvidaria-se nada se a sua máquina digital fosse capaz de desintegrar uma pessoa.
Olhou, constrangida, para a metade do que sobrou dos corpos do casal e disse:
-Desculpa é meio difícil de estacionar fora de um espaço porto.
Silêncio.
-Hã... será que vocês poderiam me dizer se aqui fica perto da Casa-... –disse, parando para conferir o nome numa prancheta – Casa Branca?
Apensas o som contínuo das ondas.
-Sabe, não existem bons motivos que expliquem falta de educação, ok? – protestou a alienígena ofendida. –Pois saiba que isso vai constar a minha pesquisa!! Passem bem.
Ela escreveu na folha de sua prancheta: “A espécie demonstrou, no primeiro contato, total falta de etiqueta, resultado de um estado evolutivo primitivo. Uma lobotomia talvez seja necessária para mais estudos”. Guardou a sua prancheta num canto da nave, voltou para dentro e fechou bruscamente a escotilha. Em poucos segundos a nave começou a se erguer, equilibrando-se no ar como um esquiador iniciante até que, com uma nova rajada de vento, alçou vôo para outro destino.

domingo, 29 de julho de 2007

Memórias de um nerd

Não sei se é o Pan, mas me deu vontade de falar dos meus tempos idos de infância, que, graças a Shiva, nunca mais irão voltar. Na verdade, o foco mesmo desse pobre texto é um dos momentos que eu mais odiava, na época, terror de quase todo jovem nerd, cdf e afins: a aula de educação física. Eu ainda estava, nesses dias, longe da minha puberdade - algo que aconteceu ontem - e ainda não havia me exposto aos raios gamas que me transformariam na coisinha linda que sou hoje; de forma que, o meu visual era composto por uma barriguinha proeminente, óculos gigantes e uma calça semelhante a um pára-quedas. Não preciso dizer que o colégio não era uma festa pra mim, mas realmente tudo ficava pior nas terças-feiras, quando tinha a fatídica aula.

Era horrível, uma verdadeira tortura nazista. Eu tinha que passar o dia inteiro com a roupa de ginástica por de baixo do uniforme normal, porque morria de vergonha de me trocar no vestuário, na frente dos outros garotos. Sem falar nos minutos que precediam à aula, quando a turma, ansiosa, transformava o pátio numa verdadeira guerra. Era um tal de empurra empurra prum lado, piadinhas para outro e eu cavando a minha trincheira em busca de proteção, o que nunca adiantava. “Ei, Társio”, chamavam, entrementes eu olhava para os meus dedos e fingia estar distraído. “Ô, mulequeee!!”. Concentrava-me inabalável no balanço dos meus dedinhos. Até que “Plafttacaram uma bolinha de papel na minha cara; agora não tinha jeito.

-Oi! Me chamaram? –disse, apertando os olhos pequenos para demonstrar o meu humor, o que me deixou praticamente cego.

-Cê é surdo ou é só feio mesmo?

-Eu...

-Então, responde essa pergunta. – falou o garoto enquanto os sidekicks dele seguravam suas risadinhas. – Você tá num navio com seu cachorro, chamado Noku, só que o navio começa a afundar. Então, o que você faz: leva Noku ou deixa Noku?

-Desculpa, não sei se entendi. – eu dizia com cara de tonto – eu to num avião e...

-Não. Está num navio. –corrigiu o menino, esfregando as mãos devido a expectativa de uma humilhação.

-Ah Navio! –bati com a cabeça na testa – É claro! Mas que tipo de navio.

-Isso importa? – irritou-se o menino

-Importa, porque dependendo da resistência do navio saberei quais são as minhas chances de sobrevivência. – respondi, limpando o óculos, o que geralmente causava mais efeito de presença, afinal as lentes ficavam mais embaçadas.

O menino desconfortável olhou para os sidekicks, que por sua vez se olharam e reluntantemente deram um sinal de aprovação. O dono da piada voltou-se então para mim novamente e inventou algo do tipo “Era um desses cruzeiros grandes que a gente vê no verão.”

-Muito melhor! –afirmei sorridente – Agora, a pergunta era se eu deixaria ou não a minha cafeteira, certo? Bem, eu levaria, claro. Não iria querer ficar perdido no mar sem um bom café.

-Que cafeteira o que, porra?! – finalmente explodia – Ah sabe de uma coisa, vamos te encher de porrada!

E eles nunca quebravam a promessa.

Mas, a algazarra terminava logo que aparecia o professor na sua cueca samba canção, que lhe dava o ar de “estava-folheando-a-minha-playboy-no-banheiro”. Ele mandava todo mundo para quadra, sentava no seu banquinho à sombra e começava a aula. A danada da aula consistia primeiro em alongamento – ou seja, espreguiçar-se –; segundo em exercícios físicos – ou seja, deitar no chão e tirar uma soneca; para os mais dedicados, imitar movimentos sexuais - ; e terceiro, futebol.

Por mais clichê que seja eu era sempre o último a ser escolhido. (por favor, não chorem) Só que essa era a parte divertida, porque todo mundo brigava para ver qual time não iria ficar comigo. Teve dois capitães que, só não se estapearam, devido a intervenção do professor. A parte chata era quando me mandavam para o gol, apesar das minhas afirmações sobre como eu jogava mal o bastante para sequer se considerado um perna de pau. É só agarrar a bola, diziam; pois bem, é exatamente esse o problema, preferia desviar delas, muito mais saudável. Dessa forma, as poucas bolas que agarrava, eram as boladas na cara, na barriga e em outros pontos do corpo. Quando percebiam a merda que fizeram, colocavam-me na linha, sem muito êxito também. Então, eu ia do gol pra linha, da linha para o gol, do gol para a saída mais próxima, antes que fosse vítima de uma horda furiosa de crianças.

No resto da semana, era só ouvir reclamações da minha atuação em campo que arruinou a chance de vitória do meu time, manchou o bom nome do futebol, trouxe seca e, segundo alguns experts, ajudou a piorar os conflitos do Oriente Médio.

Lembrando esses dias, acho que me saí muito bem... Quer dizer, não tive nenhuma lesão séria, as pernas se mexem bem ainda e, enfim, não pratico nenhum esporte.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Como eu quase fiz um amigo no 457

O ônibus 457 estava cheio e o trânsito ruim, essas coisas do cotidiano... porém, um lugar sentado perto da janela com o vento frio batendo no rosto me dava o necessário para fugir do espaço físico e viajar pelo mundo espiritual, onde eu costumo dar cantadas na carmem miranda. Ela sempre me ignora, mas, também, não posso reclamar muito ao tentar iniciar conversas com um "Hei, pode me ver uma fruta?". De qualquer forma, meu estado de meditação foi quebrado por um garotinho, sentado ,ao meu lado, no colo de uma menina que fazia um sofá sentir vergonha.
-Você vai soltar no Maracanã? -me perguntou, com voz de alguém que estava entediado de toda a viagem.
-Não.
Fiquei animado, alguém tinha falado comigo! E ele não estava fazendo nenhum movimento ameaçador em direção ao meu rosto. Tentei pensar em alguma coisa de interessante para dizer, mas me lembrei logo por que as pessoas não costumam conversar comigo. Nunca tenho nada para dizer. Pelo menos nada que seja coerente e dito numa dicção compreensível. Felizmente, ele se adiantou na conversa.
-Então pra que você pegou esse ônibus se você não vai pro Maracanã? - a voz dele funcionava como uma montanha russa, começava alta e atingia um decréscimo sonoro no final, parecendo um lamento.
-Ora, porque esse ônibus passa por muitos outros bairros. - eu disse com ares de entendedor do assunto. Porque nunca cai uma questão dessas na faculdade?
-Aaahh! esse ônibus balança muito! saco!
Uau! Olhei para o relógio, já havia se passado muitos segundos de conversa. Será que deveria lhe contar sobre o Mundo Inferior e sobre todos os segredos nerds? Não, não é bom apressar as coisas. Deveria lhe ensinar um palavrão melhor do que saco, algo que compreendesse toda a falta de preocupação com os direitos humanos que é a linha 457. Algo como "puta que pariu!caralho!!MOTORISTA , ÔÔ SEU MOTORISTA VIADO!" Mas a mãe do menino, que estava em pé, inspecionava a conversa.
-É por causa das saliências na estrada. -tentei, de novo, dá uma de espertinho.
-Hummm... -pensou o garoto - acho q não.
Havia estragado tudo. Quando o elo de amizade estava prestes a se unir, eu o quebrei. E agora?
-Então... gosta de Bob Esponja? - tentei mais uma vez - Eu tenho o album!
-Não. -disse o pirralho, tirando meleca do nariz. -nessa hora, to conversando com minha namorada no telefone.
-Ah - sim, eu o havia perdido - mas...
-Tá na hora de descer, Rodrigo. -disse a mãe puxando a sua mão. Ele se levantou da Srta. Sofá ambulante e gritou "Finalmente!".
Os vi abrirem caminho pela multidão e passarem pela porta. O ônibus andou, o vento frio soprou no meu rosto desiludido. Alguém cantou uma música um funk triste sobre uma puta que deu os dois homens e descobriu, dps, para seu desespero, q um deles não era católico.
Me virei para a janela e pensei em zoar o Noel Rosa por ele não ter queixo. Tlvz assim a Carmem Miranda me achasse maneiro.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

O objetivo sempre foge de mim
uma brisa no verão
mas ainda q destrua o meu coração... preciso tentar mais uma vez...

só mais uma vez...

(Poema escrito por Wile E. Coyote, qndo ficou na cama do hospital durante meses, após uma falha no detonador ACME combinada com uma total falta de segurança do sistema de roldanas ACME. Basta dizer q a dinamite explodiu na hora errada, fazendo com q o sistema de roldanas funcionasse e jogasse uma bigorna numa velocidade impressionante em cima da cabeça do consumidor. Isso causou além de dores absurdas, um distúrbio no terreno q contribuiu para a queda de uma pedra gigante, apoiada numa pqna colina, em cima de Coyote... um pouco antes da área ser usada para testes nucleares. Papaléguas, que curtia uma tequila com seu amigo Ligeirinho num bar a alguns km de distância, afirmou q foi um belo espetáculo. )

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Momento

Em determinados momentos da vida, alguns homens escrevem livros, plantam árvores e ... e não me lembro da terceira coisa... Mas, no meu caso, é mais fazer um fotolog e um blog para ser humilhado ou ignorado diariamente, coisa que já tenho prática no mundo real. Poderia dizer, modéstia à parte, que sou um artesão nisso, cuidando de cada fio de vergonha; esculpindo do barro o fracasso. Por isso (por isso o que?), fique ligado nos meus devaneios! Tentarei ser mais cuidadoso com isso aqui do que com o meu flog.
Um beijo de brinde para o primeiro comentário. Ai q vergonha.... vou perder a virgindade!

Obs: Eu não gostei do layout do blog. Qndo eu estiver com saco, eu mudo essa budega.