domingo, 14 de agosto de 2016

Olimpíadas Metafísicas

Levantamento de ser
O poeta balança o ombro, relaxa os músculos, esfrega as mãos, inspira e expira, e agachando-se agarra o peso de ser com as duas mãos. Levanta o peso até a altura do pescoço. Ali fica paralisado, pernas e braços tremem, o suor escorre pela pele e pinga no chão, até que o poeta desiste e solta.
O peso de ser é demais para o poeta.
Mas ele continuará treinando.

Captura da natureza
A paisagem posa para o pintor italiano e francês. Cada um tem diante de si uma tela em branco e em punhos pincel e palheta. O juiz apita. Pinceladas chicoteiam o quadro do italiano, o francês olha apenas. Ao final, o italiano tem um retrato fiel da paisagem, capaz de fazer um passarinho se estabacar sem perceber que ali não era seu ninho, mas um quadro. Há palmas, muitas. O francês, porém, permanece com a mão imóvel, alheio ao tempo que se esgota. Na plateia as pessoas se agarram nervosas. O juiz está prestes a apitar o fim da disputa quando, em um movimento preguiçoso, o francês molha o pincel na tinta preta e risca de leve a tela branca. O juiz apita. A multidão empolgada grita.
Vence o francês.

Boxe existencial
O lutador declara que o oponente não existe. O oponente, por sua vez, pergunta como o lutador sabe que ele próprio existe. Ele se defende, “Sou capaz de conjugar pensamentos e refletir sobre mim mesmo.” O outro diz que os pensamentos podem ser de outra pessoa, do juiz ou do oponente mesmo. O lutador se desvia e contra-ataca, “Mas a vitória e o vitorioso existirá independente de a pessoa ser sonhada ou verdadeira.” O oponente esbraveja, “A vitória real é a verdade, buscar a ilusão é se perder.” O lutador se segura nas cordas, desnorteado, mais volta para cima do oponente, “Mas se somos sonhos a verdade irá nos desfazer, assim como o vento sopra as nuvens. A verdade, então, significaria nossa derrota!”
Há um silêncio meditativo, o sino toca. Termina 1609º round.