— Entregarei em pessoa a alma de Puu Din aos demônios! E o bloquearei
nas redes sociais!!
A partir daí começou um treinamento intensivo para se
fortalecer e enfrentar o assassino. Nadou no rio contra a correnteza, meditou
nu embaixo de cachoeiras, escalou as montanhas mais altas, meditou no topo
dessas montanhas, encarou o rodízio de yakisoba nos podrão da esquina — é
importante aumentar tanto a resistência interna quanto a externa — e meditou no
banheiro durante nove meses. Enfim dominou as técnicas mais secretas do Kung
Fu, após comprar o best-seller As Técnicas Mais Secretas do Kung Fu e Como
Dominá-las.
Pae agora era um guerreiro superior ao próprio mestre. Podia
finalmente começar a busca pelo assassino Puu Din. Logo nos primeiros meses de
viagem sem descobrir qualquer pista de seu paradeiro, Pae Cho Nei percebeu algo
importante. Que a China era grande pra caralho. E que cavalos comiam muito e
eram caros. Pae estava na mesa de bar quando chegou a essa conclusão. Vendo sua
preocupação, a balconista, filha do dono do bar, lhe perguntou o que acontecia.
— Estou numa jornada de vingança. Treinei três anos para
enfrentar o assassino do meu mestre, mas nem sei por onde começar a procurá-lo.
— Que pena... mas quem sabe ficando um pouco aqui, a sorte
não apareça. Talvez ela estivesse correndo atrás de você o tempo todo.
Pae Cho Nei deu uma olhada na balconista e não pode deixar de
notar que ela era bonita, como uma ameixa brilhando ao luar numa noite de
primavera — era um padrão de beleza diferente naquela época. Pae aceitou o conselho e ficou mais um dia. O
dia logo virou um mês, que viraram seis meses, que viraram uma gravidez, um
casamento e depois outra gravidez e mais outra. Anos se passaram, o guerreiro agora
era um velho, sua barriga havia crescido e também suas contas. As únicas vezes
que se lembrava de Puu Din é quando batia em sua porta o cobrador de impostos.
Então uma velha chama de vingança acendia em seus olhos cheios de catarata e ele
gritava:
— Saia daqui, seu assassino! Quer provar a força dos meus
punhos?
Nessa hora começava um kata de Kung Fu, que surtia nenhum efeito
no cobrador de impostos além de um impassível cofiar do longo bigode. Bastava
ele ameaçar um aumento de juros para fazer o velho guerreiro se desculpar e
vasculhar o bolso atrás de trocados.
Enquanto via o cobrador de impostos se afastar com seu
dinheiro, que deveria ser usado para pagar a dívida com o açougueiro, Pae Cho
Nei se perguntava se não seria melhor ter estudado contabilidade em vez de ter
treinado artes marciais.
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