quinta-feira, 12 de maio de 2016

Crônicas Orientais II: Bushido do Amor

Dois samurais com espada, armadura imponente e carteira do sindicato dos samurais se preparam para um combate. O mundo congela e se aquieta, atento à tensão crescente. Os animais procuram o melhor lugar para assistir à luta, os galhos das árvores param de balançar e até as nuvens ficam constrangidas de seguir com sua eterna metamorfose e esperam. Por um tempo parece a maior competição de quem pisca primeiro da história, mas então o movimento.

A batida rápida dos pés no chão parece o vendaval de outono varrendo as folhas. Os rostos determinados. Os gritos ecoantes. O impacto.

Mas não é o som da espada cortando a carne que se ouve; é o das armaduras tinindo uma contra outra num imenso abraço. Os dois samurais envolviam-se como dois amigos separados por muito tempo. A voz deles, porém, era competitiva.

— Eu vou te abraçar feito um urso!

— Ah é! Quero ver!! Pois saiba que eu vou descansar minha cabeça no seu ombro e cheirar o seu cabelo!!!

— Então se prepara para a sacudida mortal do meu abraço com pulinhos! IIIAAAH!!! 
 
A batalha continuou sem tréguas, até que um dos samurais adormeceu gentilmente no abraço do outro — estava derrotado. Eles eram os samurais do abraço, homens honrados regidos por um código de afeto grudento e implacável, e essa época foi conhecida como A Grande Guerra dos Abraços, passada entre a Era Fuji e a Era Kodak. Mais tarde o sindicato dos samurais, interessado nos futuros direitos autorais de filmes históricos e no turismo, decidiu tornar a rotina dos samurais mais emocionante e assim abraços viraram espadas. Aquelas mesmas espadas que usavam geralmente para assar marshmallow na fogueira e fazer sanduíches.

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