O mágico tirou da cartola um coelho. As pessoas bateram palmas. O mágico tirou da cartola pombos. As pessoas bateram palmas. Tirou da cartola, ainda, lenços; vários deles, todos entrelaçados e coloridos, vermelho, azul, laranja, violeta, verde-piscina, roxo... até que se formou um amontoado cromático a seus pés. As pessoas bateram palmas enfaticamente. E então uma batida ressoou acelerando. O mágico gingou sua mão por cima da cartola como se tateasse uma matéria invisível. E enfim, na última batida, enfiou a mão na cartola e retirou Hitler. As pessoas ficaram em silêncio sem saber se batiam palmas ao ver o Reich em carne e osso, com seu bigodinho, sua farda, seu cabelo repartido, resmungando em alemão enquanto era mantido suspenso pela mão do mágico em seu colarinho. Mas finalmente ele guardou Hitler na cartola, virando-a para mostrar que não havia mais sinal do ditador. E as pessoas bateram palmas, aliviadas, rindo. Achavam que tinham chegado ao clímax do show. Não podiam estar mais erradas. O mágico pediu silêncio. Aproximou o ouvido da cartola. Depois se aprumou e ajeitou suas luvas. Entre a aba, vinda do interior da copa, emanava uma luz branca. Ela iluminou o rosto do mágico quando ele enfiou a mão na cartola. A batida ressoou mais uma vez. Bocas se abriram em expectativa. Houve um Ó em coro no instante que um tranco misterioso puxou o próprio mágico. Mas ele resistiu e, num esforço final, o mágico carregou alguém de dentro da luz, ninguém mais ninguém menos que o ressuscitado, o filho, o espírito, o santo, amém — Jesus Cristo. As pessoas bateram palmas e louvaram. Até Jesus Cristo se impressionou e acompanhou a euforia. Sua animação se desfez quando o mágico anunciou o próximo truque: faria o milagre da multiplicação de Jesus, cortaria o Senhor ao meio.
O mágico arrazoou: Você sabe, né Jesus? Tudo para conquistar o público.
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