Pois no final de semana viajei pra Miguel Pereira, com família -- e também segundo minha avó com Deus, mas ele não coube no carro e teve que ir de ônibus. Pra quem não sabe, Miguel Pereira é uma cidade de serra, pra depois de Queimados. Dessas que, pra chegar, você percorre inclinadas estradas estreitas em meio a muito mato e visões de uma provável morte despencando de uma das encostas. Mas se você superar o medo, é até bonito.
É muita paz, muito ar puro, muito passarinho cantando, e o lugar tem essa qualidade das cidadezinhas de amansar o tempo, torná-lo mais lento, as horas se espreguiçam por lá e toda gente anda com uma tranquilidade de quem nunca aprendeu que tempo é dinheiro. Uma paz sem igual, porém uma paz feita talvez com segredos, sangue e sumiços.
Em uma conversa com uma funcionária da pousada em que estávamos hospedados, ela disse que lá era um lugar de muita sossego e que qualquer "vagabundo" que desse as caras por lá logo sumia. E ela ainda fez um gesto agitando a mão como se passasse alguém na faca.
"Teve também o caso de duas velhinhas molambentas que ficavam mendigando na rua", ela disse, continuando a falar para um grupo de hóspedes que olhava desconfiado para os lados; bem, pelo menos eu estava. "Elas tinham uma casa bem ruim, caindo aos pedaços. Um dia ninguém mais a viu. Esperaram um tempo para ver se apareciam, mas o tempou passou e foram fazer uma busca na casa dela. Encontraram as duas mortas lá dentro, junto do maior luxo e de um monte de armas. A fachada desabando era só para enganar. As duas eram ricas e trabalhavam pro tráfico de drogas."
E ela continuou a falar sobre a paz citando todos os casos de violência como isolados e que não eram motivos de preocupação pois logo desapareciam, seja porque a "polícia por meios legais ou não" lidava com o problema ou porque a própria população dava cabo, como o caso de um estuprador que foi espancado pela população e sabe-se lá como ele terminou.
É engraçado como as pessoas tem essa visão de paz acima de tudo. Qualquer meio serve para chegar ao sossego, ninguém nunca pensa que dando essa abertura para a polícia agir acima da lei, isso pode voltar-se contra a população. Deixe-os matar, deixe as pessoas desaparecerem, vamos varrendo tudo para debaixo do tapete, até o tapete já não conseguir mais cobrir a sujeira e as pessoas tropeçarem nos calos formados pelo entulho.
"É muita paz aqui", terminou dizendo nossa simpática hospedeira.
quinta-feira, 15 de março de 2012
quarta-feira, 14 de março de 2012
E o depois
Feito todo aquele discurso do post anterior, vale contar o que aconteceu depois. Exatamente depois eu fui me deitar. E depois eu fui assistir TV. E, depois, fui me deitar de novo. Não parece muito esforço para quem estava querendo mudar o mundo. Em minha defesa, de fato, na semana em que postei o meu manifesto, fui em algumas instituições buscar informações sobre trabalho voluntário.
Descobri que não basta chegar lá com meu lindo sorriso e boa vontade. Primeiro, porque meu sorriso não é lindo. E segundo, porque eles procuram no máximo possível organizar o trabalho. Você precisa se encaixar dentro das necessidades da instituição e ter um projeto -- uma oficina de arte? uma monitoria? contação de história? educação física?
Porém, mais do que tudo, é necessário se comprometer. Chegar numa hora certa, no dia certo, sem falta. Principalmente na instituição em que eu fui, que cuidava de crianças. Como ela procura complementar o período escolar com uma série de atividades, não pode ficar com um vácuo na programação. Sem falar que criança se apega fácil, sente falta, estranha; elas precisam de uma rotina, da segurança de que as pessoas a sua volta não vão desaparecer.
Eu não tinha um programa, embora tenha pensado em fazer uma espécie de oficina de conto. E não tenho certeza de que posso me comprometer, não no momento. Por isso deixei apenas a promessa de voltar outro dia com algo planejado. Fiquei meio triste de ter que adiar isso e, confesso, me senti um pouco hipócrita; sempre preocupado demais com minha vidinha, sem tomar qualquer ação. Mas, se for para me voluntariar a algo, quero fazer direito e espero conseguir me organizar para realmente voltar no futuro com algum projeto.
Descobri que não basta chegar lá com meu lindo sorriso e boa vontade. Primeiro, porque meu sorriso não é lindo. E segundo, porque eles procuram no máximo possível organizar o trabalho. Você precisa se encaixar dentro das necessidades da instituição e ter um projeto -- uma oficina de arte? uma monitoria? contação de história? educação física?
Porém, mais do que tudo, é necessário se comprometer. Chegar numa hora certa, no dia certo, sem falta. Principalmente na instituição em que eu fui, que cuidava de crianças. Como ela procura complementar o período escolar com uma série de atividades, não pode ficar com um vácuo na programação. Sem falar que criança se apega fácil, sente falta, estranha; elas precisam de uma rotina, da segurança de que as pessoas a sua volta não vão desaparecer.
Eu não tinha um programa, embora tenha pensado em fazer uma espécie de oficina de conto. E não tenho certeza de que posso me comprometer, não no momento. Por isso deixei apenas a promessa de voltar outro dia com algo planejado. Fiquei meio triste de ter que adiar isso e, confesso, me senti um pouco hipócrita; sempre preocupado demais com minha vidinha, sem tomar qualquer ação. Mas, se for para me voluntariar a algo, quero fazer direito e espero conseguir me organizar para realmente voltar no futuro com algum projeto.
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