Era ano-novo. 2012 arrumava suas coisas no escritório. Guardava sua caneca, o album de fotos, o pôster motivacional que pendurara na parede com a legenda "Não deixe para o ano que vem o que pode fazer este ano!", sua cafeteira e as várias folhas sobre as quas dormira em cima durantes os 365 dias. É incrível como passa rápido. Sentiu uma certa frustração ao ver a sala vazia. Verdade que Nyemeier e Hebe tinham morrido no seu turno, e que teve a descoberta do Bóson de Higgs, mas nada que dê para ficar na história. Em breve seria um aposentado esquecido ouvindo outros numerais se gabando de suas conquistas, como o ano do sacrifício de Jesus Cristo, ou o ano que o homem pisou na Lua.
— É uma pena — disse ao apagar a luz.
No mesmo instante um raio surgiu e fagulhas de eletricidade pipocaram pelas paredes, reunindo-se no centro do escritório.
— Que porra...
A eletricidade tomou forma, e com uma explosão apareceu um numeral ali. E não era o ano seguinte.
— 2012? - perguntou a figura.
2012 confirmou.
— Sou 2017. Vim do futuro para lhe avisar.
— Avisar? Avisar o quê?
— Você precisa acabar com o mundo.
— Acabar com o mudo?
— Não. Eu quis dizer... o mundo!
Houve uma pausa e uma música de suspense, um órgão martelando teclas até a mais grave.
— Que foi isso?
— O toque do meu celular. — respondeu 2017 — Programei para tocar nesse exato instante usando os meus conhecimentos do passado.
— Uou! Isso não faz sentido, mas é legal. Espere... — 2012 havia acabado de perceber algo — Você disse que eu preciso acabar com o mundo?
— Sim. Um desastre vai acontecer. Daqui a alguns meses, em 2013, os cientistas vão criar o programa Lixeira Espacial. Ele consiste em construir imensas naves, capazes de carregar grandes quantidades de lixo e levá-lo para o interior solar.
— Que legal! Pena que não aconteceu na minha época!
— Isso. Não. É. Legal — repreendeu 2017. — Não me interrompa.
— Ok ok... — disse 2012, e depois mais baixinho: — Putz... viagens no tempo devem devem fazer mal para o humor...
— Bem... A primeira nave do Lixeira Espacial será lançada ainda no final do ano, com sucesso. A solução final para o problema do lixo chegou, os humanos vão pensar. Nada mais de se preocupar com coleta seletiva, ou na manuntenção de aterros sanitários. Basta tacar tudo no Sol e deixar queimar. E assim mais naves são criadas, e mais lixo é produzido. Sem que percebam, o equilíbrio químico do Sol é destruído, transformando-o, no último dia do ano de 2017, num super Buraco Negro que engolirá não só a Terra e a galáxia, mas a própria História em si. A Terra sumirá em todos os tempos. A não ser que ela seja destruída antes.
— Você está querendo dizer...
— Sim. Você deve acionar o Apocalipse.
— Sério?! - disse 2012 puxando 2017 pelas abas. — Eu posso acionar o Apocalipse?
— Pode não. Você deve.
— Rá! Mas isso é muito melhor do que o sacrifício de Jesus ou pisar na Lua. Nossa! Isso é melhor do que a descoberta do FOGO! Meu próprio Apocalipse! E eu nunca acreditei nessas profecias.
— Ah! Pois eu acredito em todas! — falou 2017, animado. — Sou meio que esotérico, sabe. Não saio de casa sem ler o horóscopo. Hoje mesmo, tava falando que o passado me atormentaria, daí fui na minha própria cartomante. Ela é tipo: o máximo! Ela que me avisou que o Sol explodiria no 31 de dezembro e disse que eu deveria voltar no tempo para ajudar na destruição da Terra.
Mas 2012 não prestava mais atenção, seus dígitos se chocavam ao andar de um lado para o outro em êxtase.
— Imagino como vai ser... Será que vai ter muito explosão e luz? Será que vai ter meteoros? Será que um vírus mortal vai assolar o planeta? Ou uma invasão de zumbis!!!
— Não sei, mas é bom ser rápido. Daqui a pouco o ano acaba. Bem, tenho que ir, minhas moléculas estão enfraquecendo. É hora de voltar ao meu tempo.
— Pode deixar comigo. Esse mundo vai estar bem acabado.
— Sim. Adeus e boa sorte!
Um raio estourou no escritório e levou 2017 junto.
Sozinho, ciente de estar prestes a entrar para a história, 2012 correu até o cofre na parede, escondido atrás de uma estante. Apertou a senha no teclado perto da fechadura, e o cofre se abriu. Dentro havia somente uma chave de força com uma plaquinha abaixo escrito "Apocalipse".
2012 esfregou suas perninhas e pressionou o botão.
No mesmo instante vulcões explodiram, tingindo o planeta azul de vermelho, que depois se tornou cinza. Ainda assim algumas cidades sobraram, mas das profundezas dos mares veio um terrível ser metade peixe, metade bailarina e fez um recital em cima de todos. Por fim, a chuva ácida eliminou qualquer sobrevivente.
Quando a terra era nada mais do que uma pedra corroída, 2017 reapareceu.
Iria contar que a cartomante havia lido as cartas erradas pois estava sem óculos. O Sol não iria explodir e o mundo não precisava acabar, ele só iria encontrar a pessoa amada.
Tarde demais.
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