domingo, 13 de março de 2011

Na locadora

Vocês também têm a impressão de que é cada vez mais difícil encontrar a seção de filmes adultos, vulgo de putaria, nas locadoras? Quando eu era criança , eles ficavam simplesmente numa prateleira mais ao canto do que a dos outros filmes e podiam ser vistos por qualquer passante ocasional. Alguns anos depois, já adolescente, em outra locadora, ficavam separados num quartinho, onde homens velhos e às vezes algumas senhoras curiosas entravam, olhando sempre para os dois lados para ver se havia alguém observando. Mais tarde ainda, passaram para um andar totalmente diferente, sendo necessário subir uma escada e entrar num lugar escuro que sempre fantasiei como uma casa de ópio da sacanagem.

Agora, na segunda década do séc XXI, fui na locadora e não encontrei qualquer sinal desses filmes proibidos aos olhares dos puros de coração. Creio que devem ficar numa passagem secreta, dessas escondidas por uma estante que nós sempre vemos nos castelos do cinema. A pessoa vai lá, tira o dvd certo de uma prateleira e aciona um mecanismo que a faz girar e abrir passagem para uma sala secreta, repleta de seios e pênis das mais diversas formas, tamanho e combinações. Se bem que em tempos de internet quem vai gastar dinheiro com aluguel de pornografia? E é meio difícil proteger o direito autoral na indústria pornográfica. Vai se dizer o quê, “você está tirando o dinheiro de artistas”? São pessoas fazendo sexo, é um grande plágio de Adão e Eva e suas aventuras eróticas no paraíso. Indústria pornográfica... deve ser um outro universo.

Mas é bom esclarecer algo. Eu não estava à procura de filmagens ginecológicas não, viram? Na verdade estava muito bem comportado na prateleira de clássicos, que era a única que ainda tinha filmes disponíveis. Era véspera de carnaval e parecia que um furacão havia passado por ali, levando todos os besteiróis, filmes de ação e dramas premiados com Oscar. Pessoas apareciam carregando enormes pilhas de dvds e pilhas menores de blue-rays. Tinha um garotinho que ia abraçado com uma seleção que abrangia filmes como “Super-heróis: o filme” e pérolas do mesmo calibre. E ele dizia, espantado e maravilhado consigo mesmo, “Nossa eu não sei por que gosto tantos de filmes cheios de violência e sangue?”.

Ao ouvir isso, primeiro eu me perguntei se ele estava ciente do que se tratavam aqueles dvds. Violência talvez até tivessem, mas sangue? Não sei. Quem sabe ele devesse procurar pelas caixas escuras com letras vermelhas onde a palavra massacre aparece em algum lugar. A segunda coisa que eu pensei é o que diriam as pessoas responsáveis pela classificação de censura, ou os psicólogos de plantão, caso estivessem ao meu lado naquela locadora e ouvissem a exata mesma pergunta que eles devem fazer com tanta preocupação nos seus dias de trabalho saída pela boca de uma criança; que a diz com a alegria de um viciado que não só não sabe a natureza do seu vício, mas o abraça sem se importar nem um pouco com isso. Provavelmente balançariam a cabeça em negação e colocariam o Super-herói o filme na mesma sala secreta dos pornôs.

O negócio é o seguinte: nós amamos violência. Isso não é exatamente legal, mas fazer o quê? Eu fui criado por desenhos violentos e sou esse sujeito maravilhoso, muito bem quisto por todos os outros pacientes do hospício que frequento. Mas po “Super- heróis: o filme” também não né... é uma violência contra a espécie!

E é com essas sábias palavras que eu subitamente encerro esse post e pressiono o botão de autodestruição.

KATABOOOMMMM

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