Hoje estive pensando sobre cegos. Fiquei imaginando como seria ser cego por uma imagem. Ter as vistas aprisionadas num determinado momento e vê-lo eternamente, em seus mínimos detalhes, como se ainda estivesse a sua frente. Como seria a vida desse cego, por exemplo se enxergasse para sempre o seu pior pesadelo, o fantasma do seu próprio trauma diante de seus olhos toda vez que tivesse de ir no mercado, escutar música, tocar alguém que ama. Parece insurportável, seria insurpotável até talvez se fosse só a visão congelada de sua vó nua. E se ao invés de uma situação horripilante, fosse um instante maravilhoso? Seria a pessoa uma otimista irreparável?
Penso também que depois de um tempo qualquer imagem esgote o significado. Não importa mais o que era, é só um monte de cor, de padrões. Podia ser tudo preto, podia ser tudo branco como queria Saramago. Todas cegueiras são iguais. Ainda sim, seria bem bizarro. Talvez tenha algum caso assim no mundo da neurologia e eu não saiba. Me lembro de um homem, de perfeita condição oftamológica, mas que tinha uma memória visual tão detalhada de sua terra natal que por vezes ele perdia a noção de espaço e era, para ele, como se estivesse naquela cidade de sua infância. É um caso bem interessante, eu li sobre isso no livro Antropólogo em Marte.
É engraçado como qualquer coisa observada no mesmo ângulo se esgota. É o que reclamam do jornalismo e a TV em geral né? Apresentam as mesmas informações, martelam as mesmas imagens até elas simplesmente não importarem. É o que dizem os livros pelo menos. Mas volta e meia a gente diz "eu não me canso de ver isso, poderia ficar assim o dia todo." Talvez a gente diga isso da boca para fora. Quem sabe? É a brevidade das coisas que costumam torná-las tão charmosas.
Obs: E obrigado pelos comentários, Marcela! hehe
Um comentário:
HAHAHAH recebi uma homenagem!! que lindo!!! sou uma leitora do blog, fique tranquilo!! vc tem escrito textos muito emocionantes, snif! (aquele sobre as chuvas no qual eu comentei antes é mt lindo!)
marcela
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