Vocês sabem que dia é hoje? Não estou falando de dia das mães aqui! Como se elas tivessem importância. Todo mundo sabe, o trabalho do parto é mais do filho de sair do que da mãe de tirá-lo. Francamente, deixemos o puxa-saquismo materno e a propaganda para a televisão. Hoje, 9 de maio de 2010, faz exatamente 3 anos que, com um alguns clicks, esse blog foi criado.
Desde então, muitas pessoas tiveram o prazer de ler os meus contos e me xingarem nos comentários. Muitas dessas pessoas curiosamente desapareceram em cinscunstâncias estranhas e nunca mais foram encontradas. Como a justiça averiguou, e quero frisar bem isso, eu não tenho nada a ver com tais casos infelizes, mas espero que todos aqueles que proferiram algo contra a minha genialidade estejam sofrendo bastante.
Não sou de falar de aniversário de blog, tanto que nos anos anteriores nunca fiz nenhuma menção. Porém, me considero feliz por continuar a escrever por tanto tempo, independente da qualidade dos textos. Na terceira série, época de cavaleiros do zodíaco na manchete e mulheres se esfregando na banheira do Gugu, eu era o sujeito mais apagado da sala de aula. Não havia nada que fizesse me destacar, a não ser a vez que eu levei uma borrachada na cara e fiquei com os lábios comicamente inchados. Infelizmente, a fama durou pouco. Deixei de ser astro, quando o meu rosto virou evidência da baderna que acontecia na sala de aula. De qualquer forma, ser acertado por uma borracha todos os dias não era o tipo de vida que eu queria seguir. Houve, contudo, um acontecimento que me deixou muito mais orgulhoso e que eu poderia mostrar para os meus pais e não para um médico. Uma história minha fora elogiada pela professora de português.
Geralmente, na escola, mandam a gente sempre fazer uma dissertação, segundo as extremamente detalhadas instruções de que uma boa redação tem início, meio e fim. Essas instruções só não são melhores do que as dadas por revistas femininas de como um homem deve ser: inteligente, porém selvagem; tímido, mas meio canalha; ser bom de cama e bom de conversa. É interessante notar que nem as minhas redações era boas nem hoje eu sou um bom homem. A vida... Concentração! Então, naquele ano em particular, a minha professora pediu para os alunos fazerem algo diferente. Não lembro se deu um tema livre ou algo no estilo "como fora as suas férias". Só sei isso: podia ser narrativo, se quisesse. Eu escrevi uma ficção sobre as festas de minha família, principalmente focando nas bebedeiras. O protagonista era, claro, eu; que tinha de me desviar das selvas de garrafas de cerveja. A antagonista: uma paródia de uma tia minha, um tanto neurótica e depressiva. Ela dava entonação a uma coversa banal sobre as condições do tempo, como se fosse um problemão. Dias nublados eram o apocalipse caindo sobre o mundo. Dei-lhe o nome ficcional de Carmemi.
Entreguei a obra-prima e, algumas semanas depois, já estava corrigida. Em frente a todos os alunos, a professora pegou o calhamaço de folhas, com diferentes exemplares de caligrafia, e falou que gostaria de ler em particular a redação de Társio Abranches.
-Társio está? Társio? - chamou ela.
Fodeu. Com certeza, devia ter feito algo errado. Havia ofendido a professora cuja mãe ou outro parente devia se chamar Carmemi. Ou talvez fosse para escrever sobre a violência no Brasil em forma de poesia e não uma ficção. Me encolhi na carteira e recorri ao truque de se esconder atrás das costas de alguém. É, óbvio, isso não funciona muito bem quando várias cabeças se voltam para você. Finalmente, levantei timidamente a mão como se brincasse daquele jogo no qual se entende as palmas para que o outro tente acertá-las com uma bofetada.
A professora deu início a uma breve explicação geral sobre o que tratava a minha história. Patético foi a palavra que percorreu os meus pensamentos. Como podia ter escrito uma babaquice daquelas? Eu seria exemplo para sempre do que não se deve fazer em uma redação. Talvez se dissesse ter copiado a redação de um outro estudante, eu poderia ficar eternizado para sempre como um plagiador. Parecia melhor do que errar naqueles dias. Enquanto eu bolava um esquema, a professora começara a ler em voz alta. Esperava ouvir as vaias, garotos gritando seja lá o que garotos gritavam naqueles tempos. Com certeza algo mais ofensivo do que "orelha de burro e cabeça de ET". Estava errado. Em vez de condenações, ouvi alguns risos de divertimento e o parabéns da minha professora. O primeiro parabéns que eu recebia genuinamente por algo de minha criação. Colegas vieram até falar comigo depois sobre a tia Carmemi, me perguntando de onde eu a havia tirado. Oras, não se explica genialidade, meus caros. Fiquei muito contente comigo mesmo naquela hora. Do mesmo jeito, fico contente ao postar um conto no blog ou ao fim de um roteiro escrito depois de muito enrolar.
Espero manter ainda o Devaneios Inúteis por muito tempo. Existe um mago chamado Rincewind nos livros de Terry Prechett que não consegue fazer uma magia sequer. Ele foi expulso da Univerdade Invisível e mesmo assim corre(ou foge seria a palavra certa) o mundo com um chapéu púido que ostenta a palavra mago escrita. Muita gente duvida dele. E a um deles Rincewind diz: "Dom só define o que se faz. Não define o que se é. No fundo. Quando a gente sabe o que é, pode tudo."
Por mais disfarces que eu tenha de usar para sobreviver nessa vida, quero sempre saber quem sou e ter a força para contar as minhas bobas histórias de uma mente nada brilhante aqui.
Agradeço a todos que leram e comentaram e aos que leram e não comentaram! Muito obrigado.
Um comentário:
que legaaaal! que emocionante sniiif!! é verdade a história essa história da terceira série? hehehe quando eu era criança, uma professora tbm elogiou minha redação. Mas era sobre canetas conversando dentro de um estojo! hahahaha que legal que na terceira série você conseguiu pensar nisso tudo, que gênio! acho mto mais legal quem escreve contos do que quem fica apenas dissertando, dissertando e filosofando sobre as coisas da vida né...
Postar um comentário