domingo, 29 de julho de 2007

Memórias de um nerd

Não sei se é o Pan, mas me deu vontade de falar dos meus tempos idos de infância, que, graças a Shiva, nunca mais irão voltar. Na verdade, o foco mesmo desse pobre texto é um dos momentos que eu mais odiava, na época, terror de quase todo jovem nerd, cdf e afins: a aula de educação física. Eu ainda estava, nesses dias, longe da minha puberdade - algo que aconteceu ontem - e ainda não havia me exposto aos raios gamas que me transformariam na coisinha linda que sou hoje; de forma que, o meu visual era composto por uma barriguinha proeminente, óculos gigantes e uma calça semelhante a um pára-quedas. Não preciso dizer que o colégio não era uma festa pra mim, mas realmente tudo ficava pior nas terças-feiras, quando tinha a fatídica aula.

Era horrível, uma verdadeira tortura nazista. Eu tinha que passar o dia inteiro com a roupa de ginástica por de baixo do uniforme normal, porque morria de vergonha de me trocar no vestuário, na frente dos outros garotos. Sem falar nos minutos que precediam à aula, quando a turma, ansiosa, transformava o pátio numa verdadeira guerra. Era um tal de empurra empurra prum lado, piadinhas para outro e eu cavando a minha trincheira em busca de proteção, o que nunca adiantava. “Ei, Társio”, chamavam, entrementes eu olhava para os meus dedos e fingia estar distraído. “Ô, mulequeee!!”. Concentrava-me inabalável no balanço dos meus dedinhos. Até que “Plafttacaram uma bolinha de papel na minha cara; agora não tinha jeito.

-Oi! Me chamaram? –disse, apertando os olhos pequenos para demonstrar o meu humor, o que me deixou praticamente cego.

-Cê é surdo ou é só feio mesmo?

-Eu...

-Então, responde essa pergunta. – falou o garoto enquanto os sidekicks dele seguravam suas risadinhas. – Você tá num navio com seu cachorro, chamado Noku, só que o navio começa a afundar. Então, o que você faz: leva Noku ou deixa Noku?

-Desculpa, não sei se entendi. – eu dizia com cara de tonto – eu to num avião e...

-Não. Está num navio. –corrigiu o menino, esfregando as mãos devido a expectativa de uma humilhação.

-Ah Navio! –bati com a cabeça na testa – É claro! Mas que tipo de navio.

-Isso importa? – irritou-se o menino

-Importa, porque dependendo da resistência do navio saberei quais são as minhas chances de sobrevivência. – respondi, limpando o óculos, o que geralmente causava mais efeito de presença, afinal as lentes ficavam mais embaçadas.

O menino desconfortável olhou para os sidekicks, que por sua vez se olharam e reluntantemente deram um sinal de aprovação. O dono da piada voltou-se então para mim novamente e inventou algo do tipo “Era um desses cruzeiros grandes que a gente vê no verão.”

-Muito melhor! –afirmei sorridente – Agora, a pergunta era se eu deixaria ou não a minha cafeteira, certo? Bem, eu levaria, claro. Não iria querer ficar perdido no mar sem um bom café.

-Que cafeteira o que, porra?! – finalmente explodia – Ah sabe de uma coisa, vamos te encher de porrada!

E eles nunca quebravam a promessa.

Mas, a algazarra terminava logo que aparecia o professor na sua cueca samba canção, que lhe dava o ar de “estava-folheando-a-minha-playboy-no-banheiro”. Ele mandava todo mundo para quadra, sentava no seu banquinho à sombra e começava a aula. A danada da aula consistia primeiro em alongamento – ou seja, espreguiçar-se –; segundo em exercícios físicos – ou seja, deitar no chão e tirar uma soneca; para os mais dedicados, imitar movimentos sexuais - ; e terceiro, futebol.

Por mais clichê que seja eu era sempre o último a ser escolhido. (por favor, não chorem) Só que essa era a parte divertida, porque todo mundo brigava para ver qual time não iria ficar comigo. Teve dois capitães que, só não se estapearam, devido a intervenção do professor. A parte chata era quando me mandavam para o gol, apesar das minhas afirmações sobre como eu jogava mal o bastante para sequer se considerado um perna de pau. É só agarrar a bola, diziam; pois bem, é exatamente esse o problema, preferia desviar delas, muito mais saudável. Dessa forma, as poucas bolas que agarrava, eram as boladas na cara, na barriga e em outros pontos do corpo. Quando percebiam a merda que fizeram, colocavam-me na linha, sem muito êxito também. Então, eu ia do gol pra linha, da linha para o gol, do gol para a saída mais próxima, antes que fosse vítima de uma horda furiosa de crianças.

No resto da semana, era só ouvir reclamações da minha atuação em campo que arruinou a chance de vitória do meu time, manchou o bom nome do futebol, trouxe seca e, segundo alguns experts, ajudou a piorar os conflitos do Oriente Médio.

Lembrando esses dias, acho que me saí muito bem... Quer dizer, não tive nenhuma lesão séria, as pernas se mexem bem ainda e, enfim, não pratico nenhum esporte.

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