sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Ano expirado
Sr. Antanho vivia um ano fora de validade e isso lhe fazia mal. Cria no progresso, mas aquele sem mudança. Desconfiava de liberdades excessivas. Principalmente no sexo. E acreditava que em tudo devia haver disciplina; respeito e medo eram sinônimos para ele. Sua roupa estava sempre abotoada até a garganta. Os traços no rosto eram um pouco menos suaves do que o de uma estátua. Seu andar era rígido, com economias de movimento, sempre o mesmo ritmo, sem interrupção. Quem o olhasse andando durante um momento, julgaria que estava parado e o mundo é que passava por ele. E o mundo passou. E o tempo também. E sozinho cada vez mais Sr. Antanho ficava, em uma gaveta mofada da história.
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